A dependência emocional é um dos
aspectos que facilmente identificamos nos outros, mas raramente em nós mesmos.
Quando alguém nos conta sobre seu relacionamento afetivo, imediatamente
percebemos a dependência de um dos parceiros, ou até mesmo, de ambos. Mas será
que somos dependentes e não percebemos?
Nem sempre uma pessoa dependente
necessita do outro para tudo. Muitas vezes consegue ter independência
financeira, mas é na parte emocional que encontra maior dificuldade em cuidar
de si própria. Em geral, uma pessoa dependente tem como características
principais pouca confiança em si mesma e baixa autoestima, e o foco está em ser
cuidada e protegida, sempre dependendo da aprovação, reconhecimento e aceitação
do outro, por não ter consciência de seu valor pessoal. Acredita que precisa do
outro mais do que de si mesma.
O desejo inconsciente de que
alguém cuide de nós podemos nos sujeitar a várias formas de dependência
psíquica. Ser dependente é como pedir, ou muitas vezes, implorar: cuide de mim,
pois eu não consigo, em todos os sentidos. Dificilmente uma relação verdadeira e
autêntica suporta isso por muito tempo, pois qualquer relação deve ser baseada
em trocas equivalentes e supõe pessoas inteiras, e como a pessoa dependente não
consegue ter essa percepção de si mesma, acaba por gerar muitos conflitos.
A dependência emocional pode causar muitos
conflitos nos relacionamentos. É um sinal de muita carência e, acima de tudo, a
necessidade de amor, principalmente o amor por si mesmo. A dependência faz
parte do ser humano. A dependência emocional por gerar muito sofrimento e pode
levar a outras dependências, como drogas, álcool, tabaco, sexo ou outras formas
de compulsão, pois o dependente emocional está sempre em busca de que algo ou
alguém preencha seu vazio.
Segundo o Manual Diagnóstico e
Estatístico de Transtornos Mentais, a dependência é catalogada como Transtorno
da Personalidade Dependente, uma necessidade excessiva que leva a um
comportamento submisso e aderente e ao medo da separação. Os comportamentos
dependentes e submissos visam obter atenção e cuidados e surge de uma percepção
de si mesmo como incapaz de agir adequadamente sem o auxílio de outras pessoas.
Utilizamos o termo dependência quando uma pessoa recorre continuamente a alguém
para ser ajudada, guiada, sustentada na satisfação das próprias necessidades e
não no desejo saudável de querer que o outro esteja ao seu lado.
Para que seja considerado um transtorno é
preciso identificar ao menos cinco dos seguintes critérios:
- dificuldade em tomar decisões do dia-a-dia
sem pedir os conselhos de outras pessoas;
- necessidade de que os outros assumam a
responsabilidade pelas principais áreas de sua vida;
- dificuldade em discordar dos outros, pelo
medo de perder apoio ou aprovação;
- dificuldade em iniciar projetos ou fazer
algo por conta própria, por falta de confiança em sua capacidade e não por
falta de energia ou motivação;
- chega a extremos para obter carinho e apoio
dos outros, a ponto de se oferecer para fazer coisas desagradáveis;
- sente desconforto ou desamparo quando só,
por sentir-se incapaz de cuidar de si próprio;
- busca um novo relacionamento urgente como
fonte de carinho e amparo, quando um relacionamento íntimo é rompido;
- medo exagerado de ser abandonado.
A dependência emocional mostra
uma pessoa fragilizada, fraca e carente, que pode causar muitos desequilíbrios
em qualquer tipo de relacionamento. A dependência emocional é mais evidente na
relação afetiva entre casais, mas também podemos encontrá-la entre pais e
filhos, ou entre amigos. O assunto é tão sério que uma pessoa dependente pode
fazer sacrifícios extraordinários ou tolerar abuso verbal, físico e até sexual,
para evitar ser abandonada.
Os pais, avós, professores, têm um papel
importante na formação e educação de todos nós; crianças que se sentiram
abandonadas, rejeitadas, não amadas, tendem muito mais a dependerem do amor de
outra pessoa, e vivem isso como condição de sobrevivência.
Pais superprotetores podem criar filhos
dependentes quando adultos. Quem nunca precisou fazer nada por si mesmo,
encontrando tudo pronto por pais que queriam acima de tudo suprir todas suas
necessidades, com certeza encontrarão muita dificuldade em tornar-se
independente. Pais que demonstram amor e confiança naquilo que a criança faz,
com certeza quando adulta ela será muito mais segura de seu valor e muito menos
dependente da aprovação e amor do outro.
Mesmo quando adultos desejamos ser protegidos
por alguém, não no sentido material, mas principalmente no sentido de apoio
emocional. Muitos acreditam que, a qualquer momento, em qualquer situação
extrema, poderão contar com o socorro de alguém mais sábio e mais forte, o
eterno salvador, incapaz de impedir seus fracassos. Desejar proteção é muito
diferente da dependência doentia, que faz com que a pessoa mantenha uma relação
mesmo que seja destrutiva, que a faça sofrer, chorar.
O primeiro passo para diminuir a
dependência é ter consciência de seu comportamento, conhecer-se. Para conseguir
realizar um processo de autoconhecimento e com isso, ter a percepção de seu
valor, muitas vezes é preciso recorrer à psicoterapia com um profissional de
sua confiança. Para abandonar a dependência é necessário identificar em que
áreas de sua vida ela se faz presente e de que forma está comprometendo e
causando conflitos em suas relações. O importante é se questionar sempre,
analisando quando a dependência se torna um fato negativo, que cega e impede de
crescer interiormente, tornando a existência um vício da presença do outro.
Aprove-se mais, ame-se muito mais e dependa especialmente de você!