A
psiquiatria é a especialidade médica que estuda e trata as doenças que acometem
os sentimentos, as emoções, o comportamento e a personalidade da pessoa. O
psiquiatra detém o conhecimento e a experiência para tratar dos transtornos
mentais. Ele estudou psicopatologia (ciência que estuda os fenômenos psíquicos)
e adquiriu em sua formação as ferramentas necessárias para um bom exame
psíquico, essencial na formulação das hipóteses diagnósticas.
Como
um bom cardiologista, que depende de um ouvido apurado para reconhecer os sons
do coração, o psiquiatra possui o ouvido e o olhar treinados para perceber os
sentidos do comportamento e do pensamento humano. Pelo exame é possível
observar como pensamentos, emoções, percepções, comportamento, consciência e
vontade se integram e como se relacionam com o ambiente do indivíduo. É como
numa orquestra sinfônica ser capaz de distinguir e analisar cada instrumento
para compreender o todo.
Valendo-se
de sua observação e experiência clínica com outros pacientes, o psiquiatra utiliza
essas ferramentas para formular suas hipóteses diagnósticas e propor um
tratamento, que pode envolver da psicoterapia à necessidade de medicamentos.
Por
sua formação médica o psiquiatra é capaz de diferenciar quadros mentais
orgânicos, decorrentes de outras doenças médicas, de quadros psiquiátricos
puros. Ele pode se aprofundar no estudo das neurociências e adquirir
conhecimento sobre a cognição, que tem estreita relação com os transtornos
psiquiátricos e neuropsiquiátricos. Esta é mais uma ferramenta que auxilia no
diagnóstico e no tratamento.
As
habilidades do psiquiatra são fundamentais também no decorrer do tratamento.
Ele precisa ter sensibilidade para perceber as mudanças, ainda que sutis, do
psiquismo quando ele prescreve um medicamento. Estas mudanças não só revelam o
efeito do tratamento em si, como também são preciosas para a compreensão
diagnóstica e da problemática psicossocial do paciente.
Por
isso o diagnóstico psiquiátrico e o tratamento requerem tempo, dedicação e
muita disponibilidade para atender o paciente e a família. Os detalhes da
história da pessoa e da família, a observação psicodinâmica e psicossocial e o
estabelecimento de uma boa relação médico-paciente são essenciais para este
percurso.
A
psiquiatria é uma das especialidades médicas que mais avançou nas últimas
décadas. Junto com a oncologia é a especialidade que mais evoluiu do ponto de
vista farmacológico. Mais de 80% dos medicamentos utilizados atualmente na
psiquiatria foram desenvolvidos nos últimos 25 anos, o que para a medicina é
considerado pouco tempo e uma grande evolução. Com os avanços no campo das
neurociências, evolui com rapidez a compreensão sobre a biologia dos
transtornos mentais. Isto exige do psiquiatra uma atualização constante e muita
dedicação.
Da
mesma forma que ninguém discute procurar um cardiologista diante de um sintoma
cardiovascular ou um gastroenterologista diante de uma doença do aparelho
digestivo, não se deveria titubear na hora de procurar um psiquiatra para
tratar de algum sintoma emocional ou do comportamento. Porém, em decorrência do
estigma na sociedade, muitos pacientes demoram décadas para chegar ao
psiquiatra, muitas vezes sofrendo com as complicações de sua doença, justamente
por não ter vencido a barreira inicial do preconceito.