A realidade que a duração das doenças mentais impõe não é animadora. Dentro da medicina de uma forma geral nenhuma doença é curável com exceção de algumas (maioria) infecções bacterianas e algumas cirurgias, todas as demais enfermidades são apenas controláveis pelas medicações, ou seja, desaparecem espontaneamente ou permanecem continuamente. É um engano julgar que as medicações tratam as patologias: apenas suprimem os sintomas temporariamente, contribuem para a manutenção de uma qualidade de vida aceitável.
A informação mais correta é a que deve ser dada aos pacientes. É tanto inaceitável postergar um tratamento quanto é necessário o uso de medicações, afirmar que as medicações podem curar o paciente. Existe uma tendência universal em se acreditar que a medicação deixou a pessoa boa quando, depois de usada, permite que o paciente fique assintomático. Acreditar que um antidepressivo cura a depressão de uma pessoa se baseia na simples observação temporal de causa e efeito. Esta é uma forma simplista e ingênua de avaliação dos fatos. O máximo que podemos supor até o momento é que os psicotrópicos suprimem os sintomas enquanto a doença não se ameniza ou remite sozinha. O fato de um paciente hipertenso estar com os níveis pressóricos normalizados durante o uso de anti-hipertensivos não significa que ele ficou bom da hipertensão: basta suspender as medicações para verificar o que acontece. Nos transtornos mentais temos verificado que a persistência dos sintomas, ainda que parcialmente, seja um problema não resolvido. Esta cronicidade aliada ao fato do paciente resistir a ideia de que as medicações são ruins cria um ciclo de melhoras e pioras desnecessárias. As medicações são instrumentos valiosos e devem ser reconhecidos como tais; caso contrário estará criando conflitos psicológicos desnecessários para os pacientes. É muito difícil para qualquer paciente assim como para qualquer pessoa aceitar que por causa de uma ansiedade um pouco mais elevada existe a necessidade de se tomar medicações talvez para o resto da vida. Um simples transtorno de ansiedade leve pode ser tolerado por um paciente, mas sabemos que o curso natural desses transtornos, com o tempo, não é bom. As chances dos sintomas se agravarem provocando sofrimento em quem convive com o paciente e ao próprio paciente são elevadas, ainda que o problema seja leve. As chances da patologia se agravar ou se associar a outros transtornos ansiosos e depressivos também é considerável, além de aumentar as chances de dependência química a substâncias ilícitas. A luta do paciente contra os sintomas ao longo de anos pode gerar um desgaste psicológico intratável em curto prazo, mesmo com medicações.
Ainda não existem posturas seguras para o tratamento de longo prazo (anos) dos pacientes. Os psiquiatras ainda não sabem bem o que fazer, mas a tendência que as pesquisas têm mostrado é a necessidade de manter, por cada vez mais tempo, os remédios que obtiveram sucesso no tratamento, o que está se tornando possível graças aos novos psicotrópicos com poucos efeitos colaterais.
A cronicidade das doenças deve ser bem conhecida pelos psiquiatras e psicólogos, pois é comum o julgamento das condutas assumidas por colegas, principalmente quando não são conhecidos. Receber um paciente descompensado quanto ao tratamento e criticar o médico que o acompanha é muito fácil. Assim como é fácil dizer que determinado profissional é bom porque esta ou aquela pessoa ficou boa com ele. Muitas vezes o problema foi embora sozinho e os atributos são conferidos ao profissional, assim como também a culpa pela não melhora dos pacientes. Não se pode julgar um remédio ou um profissional pelo benefício ou falta de benefício obtido. Esse julgamento deve ser realizado com base nas características da doença e sua resposta às medicações empregadas, considerando o tempo e dose empregados.