Mostraremos a verdade da saúde mental no Brasil
ABP
“Uma mentira muitas vezes repetidas torna-se verdade”. A célebre frase de Joseph Goebbels, ministro da propaganda de Adolf Hitler, pode muito bem ser aplicada à saúde mental no Brasil. Sob a fachada de uma suposta humanização, há dez anos, a maioria dos leitos psiquiátricos foram fechados, mas em vez de oferecer tratamentos psiquiátricos modernos, o governo federal tem cortado, em média, R$ 2 bilhões por ano das verbas para doenças mentais e lançado programas superficiais, sem a presença de psiquiatras. Mesmo assim, o que se apregoa é de que a saúde mental está sendo cuidada. Ainda este mês, o Ministério da Saúde habilitou mais 26 novos Centros de Atenção Psicossocial (CAPs) em 12 estados, completando um total de 1.650 em todo o Brasil. Um número insuficiente para a quantidade de pacientes que necessitam de tratamento. Para o Ministério da Saúde,46 milhões de pessoas, necessitam ou vão necessitar de atenção e atendimento em algum tipo de serviço em saúde mental.
Sem uma política adequada, o resultado que se vê, é uma legião de doentes, com quadros mentais graves, perdidos pelas ruas, vivendo sob os viadutos do país, ou encarcerados nos presídios. Em 8 anos, 18 mil leitos psiquiátricos foram fechados sem que fosse dada outra alternativa para os doentes mentais. São 16,5 milhões de brasileiros que necessitariam de internações, principalmente esporádicas. Dados do próprio Ministério da Saúde indicam que têm morrido mais doentes mentais no Brasil, depois da desativação dos leitos psiquiátricos nos hospitais, ainda assim, o que se divulga é que a política de saúde mental no país vai bem.
A propaganda alardeada pelos defensores da luta antimanicomial é de que os manicômios são desumanos, fato com que a Associação Brasileira de Psiquiatria também concorda, mas daí a retirar qualquer possibilidade de uma assistência humanizada, não podemos concordar. Precisamos de hospitais psiquiátricos de qualidade que possam atender os pacientes que necessitam de tratamento adequado. O que vemos são muitos dando palpites e poucas ações dando resultados efetivos. E para desmistificar essa “mentira que virou verdade”, a diretoria da ABP não está medindo esforços. Para esclarecer a opinião pública do verdadeiro quadro com que hoje convivemos na saúde mental, estamos indo a audiências públicas na Câmara dos Deputados e no Senado, participando de debates e seminários, seja em escolas ou universidades, promovendo encontros com secretários estaduais e municipais de saúde, além de reuniões com promotores do Ministério Público de vários estados, na tentativa de reduzir a judicialização da saúde, uma vez que atendimentos e medicamentos para os doentes mentais só se consegue via judicial.
O papel da Associação Brasileira de Psiquiatria é contribuir, de maneira eficiente, para a elaboração de uma política pública de saúde mental de qualidade e garantir o aperfeiçoamento do sistema médico assistencial, orientando a sociedade quanto aos problemas de assistência, e da necessidade de preservação e recuperação da saúde mental no Brasil. Os cinco mil psiquiatras que fazem da ABP uma entidade reconhecida e de credibilidade, também estão contribuindo nessa empreitada.
Estamos nos empenhando junto aos Três Poderes para que os doentes mentais do Brasil tenham um atendimento de qualidade e que nós, psiquiatras, possamos exercer nossa função. Com todo esse esforço, estamos certos de que conseguiremos mostrar a verdade.
Antônio Geraldo da Silva
Presidente da ABP
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