A depressão é um transtorno de
humor que quando não recebe a devida atenção por parte da pessoa que sofre,
certamente irá afetar negativamente os seus pensamentos e comportamentos. Não
existem fórmulas mágicas, nem tão pouco um tratamento que tenha 100% de
eficácia com todas as pessoas. Isto acontece porque a depressão necessita do
envolvimento da pessoa na sua recuperação, e como tal, a participação da pessoa
joga um papel fundamental na sua recuperação. É importante que a pessoa que
sofre aprenda a lidar de forma funcional com os seus pensamentos,
comportamentos e crenças, que usualmente podem apresentar-se alterados devido
às mudanças decorrentes do problema relacionado com a depressão.
Claro que existem formas,
tratamentos, terapias e mesmo alguns medicamentos que quando aplicados
devidamente e inseridos num programa de recuperação surtem um efeito positivo
na superação da depressão. No entanto, por vezes, algumas das pessoas que
sentem a sua energia diminuída, a irritabilidade aumentada, o prazer geral
afetado negativamente, desmotivação para as tarefas habituais, excesso de
pensamentos negativos, baixa autoestima, tristeza profunda, cometem o terrível
erro de não procurar ajuda psicológica. Talvez por desconhecimento, ou por más
experiências, ou por descrença nos profissionais, o que é certo é que resistem
à procura de uma solução, arrastando a sua situação até a uma zona alarmante
para a sua vida. Surgindo na grande maioria dos casos, a pergunta derradeira:
Porque é que não consigo ser feliz?
Se você ou algum familiar seu se
encontra numa situação idêntica à descrita, pondere a situação, dê-lhe a devida
atenção e procure informação no sentido de esclarecer-se melhor. E buscar ajuda
imediatamente.
A pessoa que possa estar a
enfrentar um momento depressivo, tristeza profunda ou se sinta desmotivada e
desadequada para grande parte das suas tarefas, certamente irá passar por
algumas fases inerentes ao seu momento menos bom, ou até mesmo terrível. Mesmo
que não se encontre com depressão clínica, pode usufruir perceber e saber detectar
a fase em que se encontra ou que pode vir a passar, no sentido de não piorar o
seu estado, ou na melhor das hipóteses não cair em depressão severa. Ou, se já
se encontra (desde que devidamente diagnosticada) com depressão (leve, moderada
ou severa) ficar informado da situação problemática em que se encontra e da conseqüente
necessidade de procurar ajuda profissional. E em minha opinião, de preferência
ajuda psicológica.
Apresento as cinco fases que a pessoa que tem depressão ou
que tem simplesmente alguns dos sintomas da depressão acima descritos e sente a
sua vida afetada negativamente no seu dia a dia por um período prolongado (mais
do que seis semanas) , deve ficar ciente no sentido de sensibilizar-se na
procura de ajuda.
PRIMEIRA FASE
Desconhecimento. Estas mudanças
físicas estranhas poderão ser depressão? Às vezes, tudo o que uma pessoa
precisa é de alguém para destacar o óbvio. Não suponha que uma pessoa pode
ligar os pontos entre os sintomas depressivos e a depressão como um transtorno
de humor tratável. Usualmente não. A pessoa pode passar a ter insônias, perder
peso, ter falta de apetite, perda de prazer nas coisas que gostava de fazer,
percebendo que algo de errado se passa, ir ao médico, fazer análises sanguíneas
e não existir justificação para a enorme falta de energia (sintoma muito comum
e severo presente no diagnóstico de depressão). No entanto, é igualmente
importante caso vá ao seu médico, que ele não tenha o ato bem intencionado de
lhe prescrever antidepressivos baseando-se apenas na descrição dos seus
sintomas, sem que faça o devido diagnóstico, ou de preferência que o encaminhe
para um psicólogo ou psiquiatra.
Ainda que você possa ter grande
parte dos sintomas comuns da depressão, pode não preencher os critérios de
diagnóstico para a depressão, e eventualmente estar a sofrer de um outro
transtorno psicológico que tem comorbidade com a depressão. Devido a este fato,
é aconselhável e premente que consulte um profissional de saúde mental.
Negação. O quê? Eu, deprimido? De
jeito nenhum! Às vezes uma pessoa precisa de uma exposição repetida à mesma
ideia a partir de várias fontes para que possa refletir sobre esse assunto.
Seja consistente e persistente. Conte com a ajuda de familiares e amigos. Por
vezes a palavra depressão está associada a fraqueza da pessoa. Como se apenas
as pessoas fracas psicologicamente pudessem desenvolver depressão. Um perfeito
equívoco. A depressão é susceptível de manifestar-se em qualquer pessoa. Não é
praga nenhuma, não é desprestígio nenhum, nem tem de ser um estigma.
Usualmente, numa primeira fase a pessoa não quer admitir que possa estar a
ficar desanimada com a sua vida, que o seu humor está terrivelmente alterado. A
própria negação é um potenciador da depressão.
Numa fase leve, em que a pessoa
começa a ter pensamentos deprimidos, a depressão pode não ser mais do que
apenas um conjunto alargado de erros de raciocínio que a pessoa começou a
cometer. Se a pessoa não entrar em negação, olhar o seu problema de frente e
não se estigmatizar poderá com relativa facilidade suprimir esses pensamentos e
rapidamente estabilizar o seu humor, sem avançar para cenários piores.
TERCEIRA FASE
Resistência. Ok, eu estou
deprimido, mas eu não preciso de medicação, nem de terapia psicológica ou de
ajuda profissional para resolver meus problemas. Vou orar, vou meditar, vou
comer alimentos orgânicos para me recuperar. Ainda que todas estas componentes
possam ajudar como complemento, não podem ser considerados tratamento ou
terapia.
Algumas pessoas em determinadas
situações também se recuperam de infecções graves, sem o uso de antibióticos.
As pessoas levam muito mais tempo para se recuperarem dessas infecções e às
vezes corre mal levando a pessoa à morte, devido à ausência dos antibióticos.
Porque não usar grande parte dos recursos à disposição?
Acredito que por vezes a pessoa
que se vê na situação angustiante de lutar contra a depressão, possa sentir-se
desesperada, em parte, devido ao processo de tratamento. Por vezes os sistemas
nacionais de saúde não estão preparados para trabalharem em coordenação. E,
alguns profissionais demasiado tradicionais e de “vistas curtas” agarram-se em
demasia aos seus conhecimentos, não abrindo a porta à interdisciplinaridade.
Desta forma, a pessoa que sofre pode ter receio de que se for ao psiquiatra
tenha de passar longos períodos sobre o efeito de medicação. Ou, noutro caso
ponderar a terapia psicológica, criando a ideia que terá de caminhar
eternamente para o consultório e ficar dependente do psicólogo.
Ambos os cenários na verdade são
suscetíveis de acontecerem. Por vezes o maior problema das pessoas que sofrem
de depressão, está exatamente no tratamento. Isto acontece, mas é possível ser
um paciente “inteligente” da saúde mental. Estabeleça metas razoáveis com um
terapeuta/psicólogo ou psiquiatra e defina um prazo para atingir esse objetivo
(superar a depressão). Muitas pessoas vão ao psicólogo ou psiquiatra durante
anos mantendo exatamente os mesmos problemas. Você faria isso com qualquer
outro profissional de saúde? Claro que não.
Se teimosamente o seu problema
continua a persistir passado largos meses. Se você continua a aumentar a sua
lista de medicamentos ou recorrentemente substitui uns medicamentos por outros,
obtendo o mesmo resultado, coloque esse tratamento em questão. Se continuar a
ir às consultas de psicologia, e continua a sentir-se da mesma forma, ou de
forma sistemática tem recaídas, questione o profissional, coloque a terapia em
questão.
Se já passou ou está a passar por
um cenário idêntico, tente obter uma segunda opinião ou tente uma abordagem
diferente. Não desista de forma alguma. Persista na sua tentativa de
recuperação total, ela é possível. O tipo de medicação ou terapia pode não
estar a surtir efeito, mas você pode ser proativo e esperançoso.
QUARTA FASE
Consciencialização. Eu sei que
preciso exercitar-me, ativar-me, passar a fazer pequenas tarefas, dormir mais,
regular os meus pensamentos negativos, mas eu simplesmente não me apeteço. É
importante relembrar à pessoa que sofre que somos todos humanos. Ficar abatido,
não ter vontade e resignarmo-nos é natural acontecer. No entanto, a pessoa que
sofre se pretende melhorar a sua condição, terá de fazer a pergunta derradeira:
O que eu me proponho a fazer,
mesmo não me apetecendo?
É importante que a pessoa responda todos os dias a esta questão, durante o processo de recuperação. E faça o que está previamente planeado, mesmo não tendo vontade para isso. A pessoa tem de tomar consciência que não poderá movimentar-se por sua vontade, mas sim por aquilo que sabe que tem de fazer para ajudar-se a si mesmo.
É importante que a pessoa responda todos os dias a esta questão, durante o processo de recuperação. E faça o que está previamente planeado, mesmo não tendo vontade para isso. A pessoa tem de tomar consciência que não poderá movimentar-se por sua vontade, mas sim por aquilo que sabe que tem de fazer para ajudar-se a si mesmo.
QUINTA FASE
Aceitação. Eu acho que a
depressão é algo com que eu tenho de aprender a lidar. A depressão estabelece
uma relação com os acontecimentos de vida. Numa primeira fase os estados
deprimidos são uma reação natural à perda ou percepção de perda. Aceitar esta
ideia e esta reação pode ser esperança.
O fato de aceitar-se que se está
a atravessar um momento difícil, que se enfrenta um período de vida em que
grande parte das coisas significativas pode estar a ir numa direção oposta à
desejada, pode capacitar a pessoa para sentir-se capaz de fazer algo para
superar esse período angustiante.
Se a pessoa conseguir perceber
que os sintomas físicos desagradáveis que sente, é uma consequência da sua
avaliação do momento em que se encontra. E, como tal não pode deixar de não
sentir-se abatida. No entanto, no exato momento que a pessoa percebe e aceita
isso como um fato, fica numa posição vantajosa para ajudar-se a si mesmo. Sem
estigmas, sem ataques ao seu ego, sem menosprezar-se ou vitimizar-se. A pessoa
entende que tem um problema, mas que não é o problema. Que apesar de estar
deprimida, pelo seu querer pode fazer algumas coisas para voltar a sentir-se
bem. É claro que com o devido enquadramento e ajuda profissional.
Aceite o seu estado, mas não
fique resignado a ele. Aceita o seu momento, mas faça algo para sair dele. Se
algumas coisas não resultarem, continue firme, faça outras que possam surtir
efeito.
Sucesso e boa sorte!.