O que dizer a alguém tão
curvado sob o peso de tantos medos; tão fragilizado com o pesado fardo da
insegurança; tão assustado com o horrendo fantasma do pânico; tão desesperado
diante da incerteza de uma solução?...
O que fazer, quando no vigor dos anos, se
deixa de sorrir e de sonhar; quando o sorriso dá lugar ao pranto; quando todos
os medos afloram e adquirem um tamanho desproporcional; quando a simples arte
de viver torna-se algo tão difícil de realizar?...
É possível que, nunca tendo se sentido
assim, a gente chegue até mesmo a aconselhar:
"tire umas férias; faça
uma viagem; tente relaxar; vá ao cinema; vá ao teatro; vá bater pernas, olhar
vitrines, vá passear..." Outros, menos sensíveis, talvez usem frases como estas: "deixe de
bobagem; isso é tolice; você é tão jovem; não existe razão para você se sentir
assim; isso é frescura; isso é chilique; é falta do que fazer; é doença de
gente chique... pobre não pode se dar o luxo de ter estresse... não tem tempo
para sentir "essas coisas", nem dinheiro para pagar psicólogo...
terapia é fricote de quem é rico..." Não faltará com certeza gente para
receitar: "tome água com açúcar; coma bastante alface; maracujá é
calmante; antes de dormir tome um chá: camomila, cidreira, capim santo, flor de
laranjeira, maçã com canela... você vai melhorar..."
E aquela pessoa sentindo-se tão triste,
tão assustada, tão desarmada, tão humilhada, tão indefesa, tão infeliz... Ouve
em silêncio, baixa a cabeça, fica perdida, sem direção; a voz embarga, a
lágrima rola não se controla nada conforta, não tem palavras, nada diz. Chora
seu pranto, sozinha em seu canto, sentindo na pele a mais profunda frustração.
Ninguém a entende; todos opinam os mais religiosos sugerem orações. Nada dá
certo; o mal continua; o medo aumenta; o pânico se instala; o desespero a
invade e a torna incapaz. Incapaz de sorrir, de sonhar, de viver... Incapaz de
sair, de trabalhar e até de crer.
Não sabe o que tem... Mas, sabe que tem.
Tem consciência dos seus medos, mas não os controla. Percebe o que sente e
embora desconheça a sua razão, sente tudo o que diz. Tem uma ferida que dói
escondida no fundo da alma, que ninguém pode ver nem pode tocar. Só sabe quem
sente... Só sente quem tem... Não merece crédito... Não comove as pessoas... É
pura frescura... Não dói em ninguém.
É assim a doença emocional... Não mostra
sangue. Não é palpável. Os exames clínicos não detectam; as sofisticadas
máquinas de tomografia e ressonância magnética não registram; a maioria das
pessoas ignora; boa parte dos médicos não valoriza... Mas, nem por isso é menos
dolorosa. A dor da alma é tão forte e provoca tanto sofrimento quanto à dor do
corpo e ainda é dilatada pelo preconceito dos menos informados, muitos dos
quais dentro da própria família. É importante se conscientizar de que a doença
emocional – como toda doença – merece respeito e tratamento digno e adequado,
com profissionais competentes e especializado. Convém ressaltar, que em se
tratando de "doença democrática" que não escolhe sexo, idade, classe
social, credo ou profissão, qualquer pessoa, até mesmo médico e psicólogo, pode
ser acometida pela doença psíquica.
Para finalizar fica uma palavra amiga
aos pacientes com depressão, transtorno do pânico, demais transtornos de
ansiedade e do humor, de quem viveu a doença na sua forma mais intensa:
"Jamais se deixem abater pela descrença porque a cura é possível e viver
ainda é e sempre será o bem maior. Existirão momentos de incerteza e desânimo
ao longo do tratamento, mas o importante é vencê-los e manter-se firme na
medicação e na psicoterapia, porque lutar vale a pena e a cura é a maior conquista."