segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Tranquilizantes


Diga adeus à ansiedade. Os grandes laboratórios farmacêuticos interessados no faturamento construíram a crença de que podemos e devemos viver sem ansiedade. Esta falsa idéia foi assimilada por alguns médicos e pelo público em geral, promovendo a ida dos ansiosos aos consultórios em busca do remédio milagroso. Entretanto a ansiedade pode ser uma emoção saudável e necessária a uma boa adaptação do indivíduo ao meio, sendo, muitas vezes, um aviso do organismo indicando que algo precisa ser feito para modificar a vida.
Os tranquilizantes têm sido usados há milênios. O primeiro deles, e que continua a ser consumido, é o álcool. Atualmente, a cada dia mais, diversos outros calmantes são lançados no mercado para alegria dos consumidores aflitos. Uma estatística da Organização Mundial de Saúde, publicada há alguns anos, mostrou um consumo anual de 500 milhões de psicotrópicos no Brasil. Desses, 70% eram ansiolíticos, ou seja, medicamentos para diminuir a ansiedade, apreensão, tensão ou medo. Muitas pessoas só dormem após tomarem seu sedativo preferido e, para suportar o dia desagradável que virá, ingerem mais outro calmante diurno. Alguns usam os tranquilizantes para viajar de avião, dançar, namorar, transar, dar aulas, casar, isto é, as atividades que podem acarretar certo grau de intranquilidade.
Os ansiolíticos são ingeridos puros ou misturados com bebidas, usados junto a moderadores de apetite, as drogas anti-colinérgicas (os chamados anti-distônicos); alguns estão embutidos nos medicamentos antidepressivos, fortificantes, vitaminas, diuréticos etc. As bulas acerca dos calmantes , geralmente, são mentirosas; descrevem muito mais os “bons” resultados do que os “maus”: muitas não relatam a dependência após um curto período de uso, a diminuição da capacidade psicomotora, o aumento do cansaço, a diminuição da memória, a piora dos sintomas após a sua interrupção (ansiedade rebote) e o risco de seu uso nos idosos e crianças. Uma curiosidade: os que têm menos conhecimentos acerca de seus “excelentes efeitos terapêuticos”, como os pacientes mais humildes dos ambulatórios, beneficiam-se pouco com seu uso.
Como a população brasileira tem estado intranquila com respeito ao futuro do país, conclamo o governo a distribuir essas drogas milagrosas para todos nós, em lugar de gastar dinheiro com alimentos, moradias, empregos e assistência médica. Com o povo calmo, os governantes poderiam usufruir o encantamento do poder. Cada cidadão teria direito de uma a três doses diárias, conforme sua ansiedade, este, uma vez embriagado com o efeito do calmante, não mais faria greve, não mais amolaria o pobre governo com reclamações tolas e injustas. Ingerindo sua dose diária de ansiolíticos as pessoas viveriam e morreriam calmas, talvez, quem sabe, até felizes.