quinta-feira, 29 de março de 2012

Psiconeuroses e Neuroses


Descrição Geral

Sob esta denominação se reúne uma grande variedade de distúrbios. Estes atingem apenas uma parte da personalidade e não parecem afastar o paciente da realidade, nem afetar a consciência. Nestas desordens, certas tendências, comuns a todos nós, passam a dominar os atos e pensamentos do indivíduo, sem qualquer proporção com a importância relativa de tais tendências. As neuroses são muito comuns entre a população em geral, pois, durante a II Grande Guerra, cerca de 40 a 50% dos soldados dispensados das fileiras militares sofriam de distúrbios desse tipo. Apesar de essas manifestações serem muito generalizadas, apenas uma pequena percentagem de psiconeuróticos é internada nos hospitais psiquiátricos. Eles são, em geral, tratados em ambulatórios.

Causas 
A história pregressa do paciente geralmente revela mau ajustamento aos problemas da vida desde a infância, defeitos educacionais, conflitos no ambiente familiar. Há motivos para crer que a causa básica dessas perturbações resida num modo falho de encarar os desapontamentos e frustrações. A causa aparente é habitualmente algum acontecimento ou preocupação especial, como seja: preocupação econômica, conflitos religiosos, problemas sexuais, acidentes, doenças e coisas semelhantes.

Sintomas 
Em geral, esses pacientes estão constantemente preocupados e ansiosos, habitualmente conservam sua integridade psíquica e não sofrem delírios, mas são muito sugestionáveis; com frequência sentem-se compelidos a repetir alguma ação rotineira, constantemente, embora reconheçam a tolice do seu procedimento; ou talvez se vejam obcecados por um pensamento que não conseguem afastar; ou então se sentem continuamente oprimidos por um receio estranho e injustificado. 
Não apresentam sintomas físicos específicos, embora estejam com frequência debilitada devido à sua preocupação e ansiedade. Mencionaremos a seguir algumas das psiconeuroses e neuroses. 

Estado de Ansiedade, Neurose de Angústia - Preocupação contínua e extrema com algum problema, às vezes de pequena monta. Angústia e ansiedade manifestas. 

Histeria, Pitiatismo - O paciente aparenta os mais variados sintomas físicos, como paralisias, dores, impossibilidade de ação, perda da visão ou audição, ataques semelhantes aos epilépticos, atitudes teatrais, dramáticas, etc., sem que existam anomalias orgânicas correspondentes aos sintomas. Não se esqueça de que, nestes casos, o paciente sempre deseja uma plateia. Ele gosta de ser um "ator" diante dos seus "espectadores". 

Neurastenia - Fadiga ou exaustão nervosa, tanto do corpo como do espírito. Sintomas hipocondríacos. Queixas diversas a respeito dos diferentes órgãos. 

Psicastenia - Incapacidade de deixar de fazer ou pensar coisas desarrazoadas e desnecessárias. Sintomas mais de ordem psíquica. Ansiedade. Cansaço psíquico permanente. Dificuldade na execução do menor esforço intelectual.

Neurose Obsessivo-Compulsiva - Neste caso o doente se vê dominado por ideias fixas, tolas, que não consegue afastar do seu espírito por mais que se esforce, ou então se sente compelido a realizar atos pueris, inúmeras vezes (abrir e fechar portas, contar os degraus da escada, o número de passos que dá em determinada direção, etc.). É dominado por um “ritual”, do qual não se consegue libertar e se torna extremamente angustiado quando impossibilitado de executá-lo.

Tratamento
As pessoas com estas perturbações podem geralmente ajustar-se à vida, pois não sofreram dano, seja em sua personalidade, seja em seu psiquismo. Os casos mais graves, ou os que se encontram em fase aguda, são os que você irá encontrar nos hospitais psiquiátricos. É necessário tratar qualquer mal físico de que acaso sofra o paciente, mas o tratamento mais importante é o psicológico, com o objetivo de conseguir que o paciente veja claramente a natureza de suas dificuldades e encontre melhores meios de se adaptar à vida. Em geral, o estado mórbido se explica como uma fuga a certas situações, que o paciente teria de enfrentar se estivesse no seu estado normal. Ele necessita da oportunidade de encontrar incentivo em uma ocupação pela qual sinta inclinação, e de sentir-se bem em situações normais. A psicoterapia e a terapêutica recreativa e educacional devem sempre ser empregadas em seu tratamento. Qualquer paciente reeducável poderá ser reintegrado na vida normal. Atualmente, no tratamento desses pacientes, são muito utilizados o psicodrama e a "psicoterapia de grupo".

Como Cuidar desses Pacientes
Sendo perfeitamente normais sob muitos aspectos, não são eles difíceis de tratar; você precisa ter o cuidado de não atribuir à simples teimosia ou má vontade a sua incapacidade sob alguns aspectos. Estão realmente tão doentes quanto os cardíacos, por exemplo. Coopere para proporcionar ao paciente uma vida sã, com boa alimentação, exercício, ar fresco e descanso; faça tudo o que puder para que ele se distraia e aprecie a companhia dos demais. Evite excesso de cuidados e tratamentos desnecessários para não alimentar nele o desejo de atrair a atenção, e não consinta que ele fique só, concentrado em si mesmo. Empregue constantemente a sugestão positiva e trabalhe em uníssono com o médico, cooperando com o seu tratamento em todas as oportunidades. Como esses doentes procuram quase sempre reagir contra a influência do médico e granjear o apoio do auxiliar psiquiátrico para as suas ideias errôneas, você precisa ter cuidado no que lhes diz. Aprenda a ser um bom ouvinte, mas fale apenas quando tiver certeza de que o que está dizendo não prejudicará o trabalho do médico. Os neuróticos em sua maioria não necessitam de internação e são tratados em ambulatório.

domingo, 18 de março de 2012

Pesquisa Mundial


Esquizofrenia sob investigação

A ocorrência da esquizofrenia e outros transtornos psicóticos podem estar ligados à urbanicidade e a migração interna nas cidades. Um grupo de cientistas europeus e brasileiros analisam hipóteses para o tratamento.
Um consórcio de pesquisadores brasileiros e europeus vai estudar, de forma ampla e integrada, as causas sociais e biológicas da esquizofrenia e outros transtornos psicóticos (EOP). No Brasil, o estudo será realizado em Ribeirão Preto e região, com a coordenação dos professores Paulo Rossi Menezes, da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), e Cristina Marta Del-Bem, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP. O estudo está sendo realizado, simultaneamente, no Reino Unido, Holanda, França, Espanha, Turquia, Alemanha, Áustria, Bélgica, Irlanda, Itália, Suíça, China/Hong Kong e Austrália, por intermédio de centros integrantes do European Network of National Schizopçhrenia Networks Studiyng Gene-Environment Interactions (EU-GEI).

A pesquisa investiga fatores biológicos e sociais na ocorrência de transtornos mentais. A proposta, segundo os pesquisadores, é estimar a incidência de esquizofrenia e outros transtornos psicóticos na região de Ribeirão Preto e investigar possíveis relações de fatores sociais e biológicos na ocorrência destes transtornos mentais. O projeto conta com a participação dos professores Paulo Louzada-Junior, Antonio Carlos dos Santos, Maristela Schaulfelberger Spanghero, Jair Lício Ferreira Santos, da FMRP, e Geraldo Busatto da FMUSP. O projeto é gerenciado pela psicóloga Silvia Tenan, doutora em Saúde Mental pela FMRP.

Serão avaliados possíveis fatores relacionados com a incidência de EOP, como a urbanicidade e migração interna; fatores relacionados à história de vida do indivíduo, fatores familiares e de área geográfica; alterações anatômicas cerebrais, genéticas e imunológicas. Portadores de EOP serão comparados com controles saudáveis e população em risco de EOP (irmãos de pacientes).

Pesquisa inédita

Segundo a professora Cristina Marta, ”a inclusão do Brasil neste consórcio é muito oportuna, pois permitirá realizar estudo epidemiológico metodologicamente, o que trará contribuições empíricas que se somarão às poucas evidências produzidas no Brasil e em países de renda média e baixa”. O professor Menezes avalia que “dados sobre a incidência e evolução de EOP ainda são escassos, especialmente nos países em desenvolvimento, onde vive a maioria das pessoas que sofrem desses transtornos”.

Segundo os coordenadores, a escolha da cidade de Ribeirão Preto se deve a possibilidade de acesso a uma rede organizada de serviços de saúde mental, além de possuir características demográficas específicas, como variação de densidade demográfica entre municípios componentes da região e processos migratórios internos.

“Esses fatores possibilitarão testar algumas hipóteses já identificadas em estudos europeus, como fatores de risco para o desenvolvimento de EOP, e também permitirão compreender os fatores e mecanismos determinantes de grande variação de incidência de EOP entre populações”, aponta Cristina.

Os pesquisadores estimam uma amostra de 300 casos incidentes, 150 irmãos e 300 controles. “Estas estimativas, de cerca de 16 a 18 casos previstos por 100 mil pessoas em risco por ano, são baseadas em taxas anteriormente relatadas no Brasil”, aponta a professora da FMRP. Os resultados podem levar ao desenvolvimento de ações e políticas de prevenção efetivas, para a melhoria da vida daqueles que estão direta ou indiretamente afetados por esses transtornos, por meio de ações terapêuticas mais eficientes. (da Agência USP)

Jornal O Povo (Edição de domingo - 18.03.12 )

quinta-feira, 15 de março de 2012

Esquizofrenia


A esquizofrenia é um distúrbio mental grave, caracterizado pela perda do contato com a realidade (psicose), alucinações, delírios (crenças falsas), pensamentos anormais e alteração do funcionamento laborativo e social.

A esquizofrenia é um importante problema de saúde pública em todo o mundo. A sua prevalência mundial parece ser discretamente inferior a 1%, embora tenham sido identificados bolsões de maior ou menor incidência. Nos Estados Unidos, os indivíduos com esquizofrenia ocupam cerca de um quarto (1/4) dos leitos hospitalares e correspondem aproximadamente a 20% de todos os dias de afastamento da Previdência Social. A esquizofrenia é mais prevalente que a doença de Alzheimer, o diabetes ou a esclerose múltipla. No Brasil, são registrados 56.000 casos por ano.

Diversos distúrbios compartilham as características da esquizofrenia. Os distúrbios que se assemelham à esquizofrenia, mas cujos sintomas estão presentes a no mínimo 6 meses são denominados distúrbios esquizofreniformes. Quando os sintomas persistem por pelo menos um dia, mas se repetem pelo menos por um mês são denominados distúrbios psicóticos breves.

Um distúrbio caracterizado pela presença de sintomas do humor (p.ex., depressão ou mania) juntamente com sintomas mais típicos de esquizofrenia é denominado distúrbio esquizoafetivo.

Um distúrbio da personalidade que pode compartilhar sintomas de esquizofrenia e no qual os sintomas em geral não são tão graves a ponto de satisfazer aos critérios da psicose é denominado distúrbio da personalidade esquizotípica.

Causas

Embora a causa específica da esquizofrenia seja desconhecida, o distúrbio possui claramente uma base biológica. Muitos especialistas aceitam um modelo de “vulnerabilidade-estresse”, no qual a esquizofrenia só ocorre em indivíduos biologicamente vulneráveis. Até o momento, a causa da vulnerabilidade do indivíduo à doença é desconhecida, podendo ser uma predisposição genética, problemas que ocorreram antes, durante ou depois do nascimento, ou uma infecção viral do cérebro. A dificuldade de processamento das informações, a incapacidade de concentração, a dificuldade de comportar-se de forma socialmente aceitável e a incapacidade de lidar com os problemas em geral podem indicar vulnerabilidade. Nesse modelo, o estresse ambiental como eventos estressantes da vida ou problemas de dependência de drogas desencadeiam o início e a recorrência da esquizofrenia em indivíduos vulneráveis.

A esquizofrenia começa mais frequentemente entre os 18 e os 25 anos nos homens e entre os 26 e 45 nas mulheres. Contudo, não é incomum o seu início na infância ou começo da adolescência ou em uma idade mais avançada. O surgimento da esquizofrenia pode ser súbito, desenvolvendo-se ao longo de dias ou semanas, ou lento e insidioso, desenvolvendo-se ao longo de anos.
  
Sintomas

A gravidade e os tipos de sintomas podem variar significativamente de paciente para paciente. De modo geral, os sintomas podem ser classificados em três grupos: delírios e alucinações; distúrbios do pensamento e comportamentos estranhos; e sintomas negativos ou de déficit. Um indivíduo pode apresentar sintomas de um ou até três dos grupos. Os sintomas são suficientemente graves para interferir na capacidade laborativa, de se relacionar com as pessoas e de cuidar de si mesmo. Os delírios são falsas crenças, que muitas vezes envolvem uma interpretação errônea de percepções ou experiências. Por exemplo, os indivíduos com esquizofrenia podem apresentar delírios persecutórios, acreditando que estão sendo atormentados, seguidos, enganados ou espionados. Podem também apresentar delírios de referência, acreditando que trechos de livros, jornais ou letras de músicas são direcionados especificamente a eles. Eles podem apresentar delírios de roubo ou de imposição do pensamento, acreditando que outras pessoas podem ler sua mente, que seus pensamentos estão sendo transmitidos para outras pessoas ou que pensamentos e impulsos estão lhes sendo impostos por forças externas. Existem ainda as alucinações auditivas, visuais, olfativas, gustativas ou táteis; apesar das alucinações auditivas serem de longe as mais frequentes. O indivíduo pode “ouvir” vozes comentando seu comportamento, conversando umas com outras ou fazendo comentários críticos ou ofensivos. O distúrbio do pensamento refere-se a um pensamento desorganizado, que se torna evidente quando a fala é desconexa, muda de um tema a outro e não tem qualquer finalidade.

A fala pode ser discretamente desorganizada ou completamente incoerente e incompreensível. O comportamento estranho pode tomar a forma de atos infantis, de agitação de apresentação, higiene ou conduta inadequada. O comportamento motor catatônico é uma forma extrema de comportamento estranho no qual o indivíduo pode manter-se em uma postura rígida e resistir aos esforços para ser mobilizado ou, ao contrário, ele apresenta uma atividade motora sem estímulo e sem objetivo. Os sintomas negativos ou de déficit da esquizofrenia incluem o embotamento da afetividade, a pobreza da fala, a anedonia e a misantropia. O embotamento da afetividade refere-se a uma diminuição das emoções. A face do indivíduo pode parecer imóvel. Ele mantém um contato visual mínimo e não apresenta expressividade emocional. Os eventos que normalmente fariam um indivíduo rir ou chorar não produzem respostas. A pobreza da fala refere-se a uma diminuição dos pensamentos que é refletida na diminuição da fala. As respostas a questões podem ser concisas, uma ou duas palavras, dando a impressão de um vazio interior. A anedonia refere-se à diminuição da capacidade de sentir prazer. O indivíduo pode demonstrar pouco interesse por atividades anteriores e despende mais tempo em atividades inúteis. A misantropia refere-se à falta de interesse em relacionar-se com outras pessoas. Esses sintomas negativos frequentemente estão associados a uma perda geral na motivação, no sentido de finalidade e objetivos.

Tipos de Esquizofrenia

Alguns pesquisadores acreditam que a esquizofrenia seja um distúrbio isolado, enquanto outros acham que se trata de uma síndrome (conjunto de sintomas) baseando-se nas numerosas doenças subjacentes. Em um esforço para classificar os pacientes em grupos mais uniformes, foram propostos subtipos de esquizofrenia. No entanto, em um mesmo paciente, o subtipo pode mudar no decorrer do tempo.

A esquizofrenia paranóide é caracterizada por uma preocupação com os delírios ou alucinações auditivas. A fala desorganizada e as emoções inadequadas são menos proeminentes.

A esquizofrenia hebefrênica ou desorganizada é caracterizada pela fala desorganizada, pelo comportamento desorganizado e pelo embotamento afetivo ou pelas emoções inadequadas.

A esquizofrenia catatônica é dominada pelos sintomas físicos como a imobilidade, a atividade motora excessiva ou a adoção de posturas esquisitas.

A esquizofrenia indiferenciada é frequentemente caracterizada por sintomas de todos os grupos: delírios e alucinações, distúrbio do pensamento e comportamento estranho e sintomas de déficit ou negativos.

Mais recentemente, a esquizofrenia foi classificada de acordo com a presença e gravidade dos sintomas negativos ou de déficit. Nos indivíduos com o subtipo negativo ou de déficit da esquizofrenia os sintomas negativos são predominantes como, por exemplo, embotamento afetivo, falta de motivação e diminuição do sentido de finalidade. Nos indivíduos com esquizofrenia sem déficit ou paranóide, os delírios e as alucinações são evidentes, mas são observados relativamente poucos sintomas negativos. Em geral, os indivíduos com esquizofrenia sem déficit tendem a apresentar uma incapacitação menos grave e são mais responsivos ao tratamento.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Benzodiazepínicos


O perigo por trás dos tranquilizantes.
Os tranquilizantes têm sido usados há milênios. O primeiro deles, e que continua a ser consumido, é o álcool. Atualmente, cada vez mais, diversos outros calmantes são lançados no mercado para alegria dos consumidores aflitos. Uma estatística da Organização Mundial de Saúde, publicada há alguns anos, mostrou um consumo anual de 500 milhões de diferentes psicotrópicos no Brasil. Desses, 70% eram ansiolíticos, ou seja, medicamentos (geralmente benzodiazepínicos) para diminuir a ansiedade, apreensão, tensão ou medo. Muitas pessoas só dormem após tomarem seu sedativo preferido e, para suportar o dia desagradável que virá, ingerem mais outro calmante diurno. Alguns usam os tranquilizantes para viajar de avião, dançar, namorar, transar, fazer provas, dar aulas, casar, isto é, as atividades que podem acarretar certo grau de intranquilidade.

Leo Stembach, acidentalmente, descobriu em 1955 o primeiro benzodiazepínico, denominado Clordiazepóxido (Librium). Logo depois, em 1963, foi produzido e comercializado o Diazepam (Valium). Seu uso se espalhou rapidamente por todo o mundo.

Os benzodiazepínicos, fusão de benzeno com um anel diazepínico, atuam aumentando o efeito do neurotransmissor natural (congênito), o “ácido gama-aminobutírico” (GABA). Portanto, os benzodiazepínicos aumentam (potencializam) efeitos já existentes no homem e em outros animais. Estas substâncias químicas funcionam como inibidoras; atenuam as reações químicas provocadoras da ansiedade. Os benzodiazepínicos seriam, assim, agonistas (fortalecedores) do sistema GABA.

Ultimamente as pesquisas têm indicado a existência de receptores específicos para os benzodiazepínicos no SNC, sugerindo a existência de substâncias endógenas muito parecidas com os benzodiazepínicos. Tais substâncias seriam uma espécie de “benzodiazepínicos naturais”, ou mais precisamente, de “ansiolíticos naturais”.

Funções dos Benzodiazepínicos

Os benzodiazepínicos produzem cinco efeitos principais no organismo: sedativos, hipnóticos, ansiolíticos, relaxantes musculares e anticonvulsivantes. Os efeitos descritos são diferentes conforme o benzodiazepínico, entretanto, as respostas citadas estão presentes em todos os eles. Por exemplo, o Midazolam (Dormonid), Flurazepam (Dalmadorm) e Flunitrazepam (Rohypnol) são benzodiazepínicos com propriedades eminentemente sedativo-hipnóticas; Eles são usados, também no preparo de pequenas cirurgias e exames laboratoriais. Por outro lado, o Alprazolam (Frontal) tem uma ação mais ansiolítica e menos sedativa.

As propriedades descritas acima tornam os benzodiazepínicos úteis no tratamento da ansiedade, insônia, agitação, apreensões, espasmos musculares, abstinência do álcool e como pré-medicação nos procedimentos médicos ou odontológicos.

Alguns benzodiazepínicos (entre eles o Rivotril) são também usados nas crises mioclônicas (contrações musculares súbitas e involuntárias), ausências (perda transitória de consciência), crises convulsivas tônico-clônicas e ainda, no tratamento da Doença do Pânico.

Na maioria das vezes o benzodiazepínico é administrado por via oral, no entanto, ele também pode ser dado por via intravenosa, intramuscular ou retal. Atenção: o pico do efeito (ponto máximo da concentração sanguínea) do é alcançada mais rapidamente quando a via de administração for oral e não intramuscular. Assim sendo, havendo necessidade de rapidez, a via oral ou endovenosa é preferível à intramuscular.

Duração das ações dos Benzodiazepínicos

Os diferentes benzodiazepínicos existentes, Clordiazepóxido (Librium, Psicossedin); Diazepan (Valium, etc.); Clonazepam (Rivotril, etc.); Bromazepam (Lexotam, etc.); Alprazolan (Frontal e etc.); Lorazepam (Lorax,  etc.); Cloxazolan, (Olcadil) e outros, são classificados como sendo de curto, médio e longo prazo quanto ao tempo que permanecem fazendo efeito (agindo)  no organismo. Apoiados na duração do tempo de ação pode-se deduzir que os benzodiazepínicos de tempo médio são os mais indicados para tratar a insônia. Já os benzodiazepínicos de duração maior são recomendados para o tratamento da Ansiedade Generalizada.

Efeitos colaterais

O novo grupo de drogas, inicialmente recebida com otimismo pela profissão médica, aos poucos produziu preocupações, em particular, o risco de dependência que se tornou evidente na década de 1980. Embora os antidepressivos com propriedades ansiolíticas fossem introduzidos, e existe uma crescente consciência dos efeitos adversos dos benzodiazepínicos, eles continuam a ser usados de forma exagerada e trivial para aliviar qualquer ansiedade.

Os efeitos colaterais mais comuns dos benzodiazepínicos estão relacionados à sua ação sedativa e relaxante muscular, variando de indivíduo para indivíduo. A sedação produz a depressão, sonolência, tonturas, diminuição da atenção e concentração. A falta de coordenação muscular pode resultar em quedas e lesões, especialmente entre os idosos, além da dificuldade para andar. A diminuição da libido e dificuldade em ter ereção é um efeito colateral comum. A desinibição pode surgir levando a pessoa a ter uma conduta social inconveniente. A hipotensão e a respiração reprimida podem ser encontradas após o uso intravenoso. Efeitos colaterais menos comuns incluem náuseas e alterações do apetite, visão borrada, confusão, euforia, despersonalização e pesadelos. Casos de toxicidade hepática têm sido descritos, mas são raros.

Efeitos em longo prazo

Efeitos adversos tardios produzidos pelos benzodiazepínicos incluem uma deterioração geral da saúde mental e física que tendem a aumentar com o tempo. Nem todos, porém, enfrentam problemas com o uso em longo prazo. Os efeitos adversos podem incluir também o comprometimento cognitivo, bem como os problemas afetivos e comportamentais: agitação, dificuldade em pensar de forma construtiva, perda do desejo sexual, agorafobia e fobia social, ansiedade, depressão maior, perda de interesse em atividades de lazer e incapacidade de sentir ou de expressar as emoções. Além disso, pode ocorrer uma percepção alterada de si, do ambiente e nas relações sociais.

Uso e abuso dos benzodiazepínicos

Os benzodiazepínicos são comumente utilizados abusivamente e tomado em combinação com outras drogas de abuso. Em geral, os benzodiazepínicos são seguros e eficazes durante poucos dias, apesar dos prejuízos cognitivos e comportamentais, tais como a agressão e desinibição que podem ocorrer ocasionalmente.

Os benzodiazepínicos tomados em overdoses podem causar inconsciência perigosa e profunda. No entanto, eles são muito menos tóxicos que seus antecessores, os barbitúricos (Gardenal, etc.). A morte raramente resulta quando um benzodiazepínico é a única droga tomada. Ele, junto a outros depressores do sistema nervoso central (álcool e opiáceos), gera um aumento da toxicidade.

Idosos e os benzodiazepínicos

Os efeitos adversos dos benzodiazepínicos são aumentados e os benefícios são diminuídos nos idosos. Os efeitos indesejáveis sobre a cognição neles podem ser confundidos e tratados como resultante da velhice ou de demência (Alzheimer e outras).

Assim, os benefícios dos benzodiazepínicos são menores, e os riscos, maiores nos idosos. Os idosos têm o risco de aumentar a dependência e ficarem mais sensíveis aos efeitos adversos, tais como problemas de memória, sedação diurna, dificuldade de coordenação motora e aumento do risco de acidentes automobilísticos e quedas. O efeito em longo prazo dos benzodiazepínicos e a dependência deles em idosos pode assemelhar-se à demência, depressão ou síndromes de ansiedade e, progressivamente piorar ao longo do tempo.

Os benzodiazepínicos devem ser prescritos aos idosos com cuidado, em doses baixas e por um curto período de tempo. Os benzodiazepínicos de vida curta ou intermediaria são os preferíveis para os idosos, como Oxazepam e Temazepam. Os benzodiazepínicos de alta potência Alprazolam e Triazolam e os benzodiazepínicos de longa duração não são recomendados para os idosos devido ao aumento dos efeitos adversos. O uso em longo prazo dos benzodiazepínicos tem sido associado ao aumento do risco de comprometimento cognitivo. Mas sua relação com a demência permanece inconclusiva. Os benzodiazepínicos são prescritos, às vezes, para tratar os sintomas comportamentais das demências. No entanto, à semelhança dos antidepressivos, eles não só têm pouca eficácia, como também podem piorar a demência.