Ela é tão comum quanto a alegria, a tristeza, o medo. Faz parte da constituição das emoções humanas. Aprender a notar os próprios sinais e modificar a maneira como vivencia o cotidiano pode ser os caminhos para evitar que o comum se torne problema e crise
Muitas são as pessoas que se definem como ansiosas. Entretanto, a ansiedade é algo normal e necessário para enfrentar o dia a dia, as obrigações e as expectativas. Ao se fazer uma prova, ao se submeter a uma entrevista de emprego, ao não saber o que vem em seguida. Segundo Tatiana Tostes, psicóloga e professora da Universidade de Fortaleza (Unifor), todos nós temos quadros de ansiedade em situações pontuais.
“A ansiedade faz sempre referência a algo que está fora do meu controle, algo que me é estranho, mas que não é de todo desconhecido. É como se fosse alguém que está para chegar, eu sei que vai chegar, mas não sei quem é”, indica Tatiana Tostes.
Ela complementa que o cenário atual favorece esses quadros, pois estamos o tempo inteiro às vias de situações concretas que nos colocam diante daquilo que não podemos controlar, o que nos deixa em alerta.
Para o psiquiatra Fabio Gomes de Matos, professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), a quantidade de tarefas que as pessoas se propõem a dar conta não condiz com o tempo disponível, o que também favorece experiências de quadros ansiosos.
“É uma sociedade que vai se tornar cada dia mais ansiosa, a não ser que as pessoas entendam e revejam seus processos”, o comenta. E entre essas pessoas, o psiquiatra indica que as mulheres têm o dobro de casos de ansiedade em comparação com os homens.
O psiquiatra ressalta que não existem comprovações científicas para essa prevalência, mas a hipótese de que existe uma percepção feminina do mundo que é diferente da percepção masculina pode ser levada em conta.
Ele lembra que existe uma quantidade ímpar de tarefas que as mulheres se envolvem que causam ansiedade. “É muita coisa no ar para que as mulheres possam fazer algum tipo de otimização em todas as áreas”, opina o psiquiatra.
Entre homens e mulheres, reconhecer quando a ansiedade passou a ser um problema e buscar ajuda são os preceitos para uma vida com qualidade. Ela, ansiosa e em processo de conhecimento, admite que, até ir buscar ajuda ter consciência que o que tem não era frescura ou exagero, aconteceu uma luta na própria mente. Ele lembra que a crise de ansiedade, que o levou a perder o emprego, foi a única maneira que permitiu que visse o que estava acontecendo.
“Assim como eu, muita gente deixa para procurar ajuda quando está em crise. Eu poderia não ter chegado a uma situação de estresse tão grave se houvesse admitido o problema antes”, comenta ele, que tem 36 anos, trabalha em negócio próprio e recuperou o relacionamento familiar.
Com a relevância do tema para a saúde das pessoas, a Ciência e Saúde buscam os limites da ansiedade e o impacto que causa na qualidade de vida das pessoas, assim como as formas indicadas para lidar com essa realidade.
Ansioso, mas com qualidade de vida.
Mesmo a ansiedade sendo natural ao ser humano, chega um ponto em que ela se torna um problema difícil de conviver. E é nesse momento em que a ajuda se coloca como uma necessidade para que a qualidade de vida seja uma realidade.
“Como ansiedade é algo que todo mundo tem, achamos que o que temos é normal, que deve ser besteira e isso faz com que a gente demore muito até perceber que é mais sério do que pensamos”, comentou aquela que sempre foi ansiosa, agoniada e queria fazer tudo de uma vez. Ela opta por não se identificar para evitar o julgamento dos outros, ainda atrelados ao desconhecimento e ao preconceito.
No começo, acreditava que a ansiedade era mais uma característica sua e, como conseguia relaxar no fim de um trabalho ou em um feriado, não a afetava.
O problema surgiu quando a ansiedade foi ficando pior e constante. “Não dependia mais da época, se tinha algo importante no trabalho ou não. Eu me preocupava extremamente com tudo. Deixar algo para o dia seguinte era uma noite mal dormida com certeza”.
E foi nesse momento em que surgiram os sintomas físicos: dor de cabeça, tontura, enjoo e dor de barriga, devidamente ignorados e relegados a uma virose. “Isso foi ficando constante e, depois, comecei a ter umas crises: coração disparava, ficava com falta de ar, mãos e lábios formigavam. Foi nesse ponto em que procurei ajuda”.
Tatiana Tostes, psicóloga e professora da Universidade de Fortaleza (Unifor), explica que a ansiedade passa a ser patológica quando traz sofrimento. Ela lembra que o ideal para aquela pessoa que tem traços de ansiedade na sua personalidade é que encontre saídas como atividades esportivas e artísticas.
Psicoteapia
Entretanto, quando essas estratégias não dão conta e a sensação de desconforto continua constante, é hora de buscar uma psicoterapia, comenta Tatiana, que é membro do Laboratório de Pesquisa em Psicologia e Saúde da Unifor (Lapsis) e do Laboratório de Estudos e Intervenções Psicanalíticas na Clínica e no Social (Leipcs)
O psiquiatra Fabio Gomes de Matos, professor do curso de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), esclarece que a incapacitação, o incômodo ou o fato de que algo é hiperdimensionado em relação aos outros são critérios que podem indicar quando a ansiedade se tornou um problema e precisa de tratamento.
E se há um quadro mais grave envolvendo sintomas físicos e fisiológicos, pode ser necessário um acompanhamento e uma intervenção medicamentosa para conter a situação.
Foi o caso do profissional de 36 anos que sofreu uma crise de estresse em um contexto de trabalho que não diferenciava dia, noite e fim de semana. Um amigo notou a diferença comportamental e o levou para o Hospital de Saúde Mental de Messejana (HSMM), onde ele foi diagnosticado com estresse e ansiedade.
Naquele momento, ele já contabilizava uma semana dormindo uma hora por noite. Por isso, foi necessária a administração de medicamentos para dormir e para controlar a ansiedade, que foi diminuindo com o tempo.
A ansiedade, que sempre esteve presente, deu um alerta com a crise. “Hoje, eu consigo enxergar a vida diferente. Eu continuo com a ansiedade, mas estou lidando com ela. Voltei a surfar por indicação médica, estou mais próximo do meu filho, tive que entender que as coisas não precisam ser todas para hoje”, descreve. (Jornal O POVO - edição de 04/12/11. Domingo).